Não seria maravilhoso todo o universo em um único verso?

"Conheço no mínimo trezentas maneiras sinceras de se dizer eu te amo. Nenhuma delas com palavras. Porque amor não é amor de dicionário. Amor não é palavra. Não existe amor sem olhos nos olhos, sem lágrimas rolando face abaixo, sem corpos em contato carnal, sem mordida, sem tapas, sem ódio. Não existe amor sem ódio. Porque quem ama odeia. Claro que odeia, sente raiva, não aceita, não entende, esperneia, grita, perdoa e depois faz tudo de novo sem entender o porquê. E o amor tem contrário. Tem sim. O contrário do amor é a indiferença. Mas a indiferença não é importante. O amor, ah, o amor é. E amor é pernicioso, amor se infiltra por dentro da gente e faz com que cada molécula de nosso corpo perca completamente a noção do que é, do que faz. Amor não é emoção, amor não é paixão, amor não é essa banalidade estúpida retratada em novela das sete com personagens caricatos. Amor se faz complexo. Dizem que amar é simples, mas quem concordaria? Todos que já amaram uma ou outra vez sabem. Amar não é fácil porque amar dói. E iludem-se aqueles que acham que amar não deveria doer. E convenhamos: se amar fosse fácil assim, se amar simplesmente acontecesse de forma natural, se amar não precisasse de esforço, se não precisasse de dedicação, se não precisasse de cultivo, não teria graça. Quem amaria? Por que se deveria amar? Ah, seria tudo perpassado por uma pacatez que me parece assustadora. Amor fácil é como felicidade que não conhece tristeza. Não existe. Não de verdade. Não pra além do dicionário, que limita nossa vida a algumas letras que justapostas se fazem prepotentes e se propõe a explicar tudo. Mesmo não dizendo nada. Então amar é isso. Amar é se envolver com o outro e tentar levar adiante uma relação sem qualquer motivo racional. Amor não tem explicação racional. E amor também não se compreende. O máximo que se pode fazer é senti-lo. Senti-lo com tudo que vem junto. Senti-lo com dores lancinantes que fazem você quere explodir, senti-lo com felicidades incomparáveis. E isso todos vocês sabem. Perdoem se até agora eu não disse nada de novo, se não inovei, se não criei. Mas cá entre nós: não era isso que eu queria. O que eu queria era colocar pra fora tudo que está engasgado. Eu queria gritar pra mim mesmo e pedir para que parasse de doer. Eu queria mesmo era ter certeza de alguma coisa. Porque vocês sabem que amor é repleto de insegurança. Que amor não quer exagero falso, mas também que não se agüenta sem demonstração. Amor é sutil e gosta de detalhes. Mentira. Amor gosta do exagero nos detalhes tanto quanto dos detalhes do exagero. E amor seguro é amor falso. Porque amor seguro é daqueles que acham que podem, como disse um grande sábio, agüentar qualquer coisa. Mas o infinito, o infinito não cabe no amor. E me diga, meu anjo, o que seria o outro se não um infinito bem desenhado? E se o outro é infinito e o infinito não cabe no amor, por que o amor existe  sendo que o outro é infinito dentro de si mesmo tanto quanto nós somos infinitos em nossa ignorância a respeito dele e de nós mesmos? Paradoxo. Porque amor se faz-se oxímoro. E amor não se faz claro! De maneira alguma, de modo algum, em situação nenhuma. Amor se reveste desse véu de sentimentos inexplicáveis e caros. E amor só nasce se você quiser amar. Pra se manter um amor tem que se ser forte. Aguentar dor e ódio. Mas tudo isso é conjectura. Uma certeza é certa: Amor(ar), seja lá o que for ou por quais palavras vazias de dicionário for definido por uma mente demente que seja, vale à pena. Amar vale cada grama de esforço empenhada. Amor pode até ser uma desgraça, e desgraçado seja aquele que ama. Mas me diga: do que adiantaria graça se não houvesse amor? É, “sem amor eu nada seria”. Piegas, eu sei, mas é bonito. E, ah, sabe o que eu queria colocar pra fora que está engasgado aqui dentro? Que eu te amo. Era isso. É piegas também, eu sei, mas é bonito. Eu te amo."

 - kaio rafael de oliveira diniz

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